SPTrans reconsidera e ônibus Mafersa histórico é retirado de leilão de sucatas

Modelo que deve ser restaurado é do mesmo lote deste ônibus da foto, que operou pela CMTC. – Acervo: Waldemar de Freitas Júnior – Clique para ampliar
Veículo é o único exemplar do modelo a diesel que restou em poder da prefeitura e marcou época desde a CMTC, antiga empresa pública da cidade
ADAMO BAZANI
A SPTrans – São Paulo Transporte, gerenciadora de mobilidade da capital paulista, vai poupar do leilão de “sucatas” um modelo de ônibus que marcou uma parte da história do transporte paulistano: o Mafersa M-210 Turbo, ano 1990, único exemplar a diesel do modelo que restou no patrimônio da cidade.
Em resposta ao Diário do Transporte nesta quinta-feira, 15 de agosto de 2019, a SPTrans disse que reconsiderou a decisão de levar o veículo à leilão.
“A SPTrans informa que sempre apoia iniciativas para a preservação da história do transporte público e por isso reconsiderou.” – diz a resposta.
A decisão ocorreu depois de uma reportagem do Diário do Transporte que revelou no início desta semana que entre os 22 veículos que seriam vendidos como sucatas estavam modelos históricos, entre os quais, o Mafersa.
Na ocasião, a gerenciadora havia negado que entre os 22 lotes que seriam leiloados estavam veículos que já tinham sido cogitados para restauração, mas pesquisadores em mobilidade mostraram à reportagem fotos do veículo Mafersa com a inscrição no para-brisa “Reservado para o Museu”
Ônibus Mafersa com a inscrição de reserva para museu. Foto: Samuel Tuzi
Veículo ainda no lote para leilão
Relembre a matéria
O pesquisador em transportes, Juverci de Melo, responsável pelo site Portal do Ônibus que, entre outras ações, realiza a BBF – BusBrasil Fest, uma exposição anual de coletivos antigos e novos, diz que o fato de o Mafersa ser retirado do leilão de sucata é uma conquista para a memória dos transportes e que os entusiastas e demais pesquisadores se dispõem até mesmo a encontrar peças que possam estar faltando para o trabalho de restauração.
“Esta conquista representa para todos nós, uma esperança de manter a história viva do ônibus em nossa cidade. Conversei com muitos entusiastas a respeito e todos se prontificaram em ajudar no que for preciso para recuperação desse ônibus, como, por exemplo, em busca de peças para a restauração” – disse.
Juverci ainda relata que o modelo foi marcante na CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, antiga empresa pública da cidade, que chegou a ter, no total, 148 unidades do Mafersa M-210 Turbo. O que iria para leilão é único que restou desta frota.
“O modelo da Mafersa iniciou sua trajetória em São Paulo com o fornecimento das primeiras unidades do monobloco para o sistema trólebus da cidade em 1986. Mais tarde a Mafersa lançou o mesmo modelo na versão com motor a diesel e, em fevereiro de 1990, iniciou-se operação dos primeiros 128 Mafersa M-210 a diesel. Os ônibus tinham diversas cores (Amarelo, Laranja, Verde e Vermelho) e inicialmente iriam operar na cidade de Curitiba e no estado do Espírito Santo. Um ano depois, foram adquiridos mais dois lotes de 10 unidades cada totalizando assim 148 Mafersa do modelo M-210 Turbo na CMTC.”- explica
A Mafersa – Material Ferroviário S.A. foi fundada em 31 de janeiro de 1944 e fabricava composições e materiais para sistemas de trens e metrôs, se tornando uma das maiores empresas brasileiras do ramo. Com os problemas na economia gerados pela inflação dos anos 1980 e, principalmente, com a falta de investimentos no setor metroferroviário, foi produzindo ônibus que a Mafersa conseguiu uma sobrevida importante até que a matriz, que ficava na Lapa, Zona Oeste da capital paulista, fosse adquirida em 1997 pela francesa Alstom. Em 1999, a Mafersa transferiu a tecnologia e os direitos do uso de sua marca para a MWL Brasil rodas e eixos, que era formada por ex- funcionários da Mafersa. A empresa MWL foi posteriormente comprada pela alemã German GMH Group.
O M-210 Turbo, modelo que foi poupado do leilão, foi o primeiro ônibus a ser produzido pela empresa.
A fabricação do M-210  Turbo ocorreu a partir de 1985.
O ônibus M 210 era Monobloco, ou seja, a carroceria e o chassi formavam um mesmo conjunto. O motor era o Cummins 6CT8.3 210, o mesmo que equipava o caminhão Volkswagen 14.210 . A transmissão era ZF S 6-90  e o eixo de tração era feito pela Mafersa, com tecnologia licenciada da Europa.
A empresa foi uma das pioneiras na aplicação de freio ABS e controle de estabilidade em ônibus urbanos.
Relembre toda a história da Mafersa como produtora de ônibus neste link:
O leilão da SPTrans, sob responsabilidade da Sodré Santoro continua marcado para o dia 27 de agosto com outros ônibus que serão comercializados como sucatas.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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